O vinho nas regiões do Chile

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Confira matéria especial sobre um roteiro incrível para os amantes de vinho

Tão conhecido pelas Cordilheiras dos Andes e pelas diversas paisagens naturais, o Chile nos surpreende de diversas maneiras. Uma delas, é pelo paladar. Seus fantásticos vinhos, tão famosos, são produzidos em um território muito mais amplo do que vem às nossas mentes. Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo, no caderno Paladar, o repórter Marcel Miwa retrata um novo cenário que está por vir. Um projeto liderado pela associação Wines of Chile para remapear as zonas vinícolas do país, com previsão para finalizar somente em 2020.

Em um roteiro de 5 dias, oferecido pela Interpoint, é possível visitar algumas das mais famosas vinícolas, como a vinícola Santa Rita, no Vale do Maipo, e a Viña Casa Silva, Mont Gras e Viña Bisquert, no Vale do Colchagua. [confira o roteiro]

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Confira os vários tipos de vinhos produzidos e onde ficam as zonas vinícolas (texto original: http://blogs.estadao.com.br/paladar/reforma-vinografica/)

Num cenário vinícola sujeito a tantas influências como o chileno, seria tão impreciso definir um estilo de vinho apenas dos Andes como pensar que os vinhos do Maipo se encaixariam em um único gabarito. Quando se cruzam as zonas norte-sul com leste-oeste, entretanto, se consegue um retrato mais preciso de como será o vinho. Não se pode esquecer, porém, que a região é apenas uma parte do tripé para conhecer a bebida antes da compra. O produtor e a variedade da uva são os outros dois critérios básicos para avaliar.

No litoral, predominam as castas brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling, e as variedades tintas de clima frio, como Pinot Noir e Syrah (costuma-se usar o termo Syrah para descrever a expressão francesa da casta em clima frio, e Shiraz para a tipicidade australiana, de clima quente). Os brancos são normalmente cítricos, minerais (em alguns casos, salinos) e frescos. Já os tintos têm taninos marcantes, porém em menor volume. São frescos, pouco concentrados e têm notas florais. Bom exemplo do estilo é o Casa Silva Cool Coast Sauvignon Blanc 2012, Colchagua (R$ 112, na Vinhos do Mundo). O vinho é praticamente transparente, com toques cítricos, textura levemente untuosa e boa acidez. Outro representativo é o Volcanes de Chile Tectonia Pinot Noir 2012 – Bío-Bío (R$ 109, na Zahil), que tem fruta elegante, mais ácida que doce, textura delicada, com ótimo frescor e toque salino.

Na zona Entre Cordilheiras, calor e luminosidade resultam em vinhos potentes, com taninos austeros e menor acidez – em muitos casos, algum tempo na garrafa pode equacionar taninos e concentração. Bom exemplo ali é o Casa Lapostolle Canto de Apalta 2011, Colchagua (R$ 100,98, Mistral), frutado potente e maduro, com toques de especiarias, taninos finos e bastante intensos e boa acidez. Outro rótulo interessante produzido na região é o Santa Carolina Reserva de la Familia Carmenère 2010, Rapel (R$ 84,64, Casa Flora). Em vez das notas herbais que costumam incomodar nos Carmenères, aparecem frutas vermelhas maduras. Longe de ser um blockbuster, é límpido, com bom equilíbrio entre taninos-acidez-concentração.

Os vinhos produzidos nos Andes são geralmente aromáticos, com expressão da fruta bem definida, taninos redondos e acidez equilibrada. Exemplo? Ribera del Lago Sauvignon Blanc Cenizas 2011, Maule (R$ 85, Magnum). Esse Sauvignon Blanc é típico de clima frio, com notas de grapefruit e limão-siciliano, ervas aromáticas frescas e toque mineral. Tem ótimo frescor. Outro rótulo representativo da zona é o Undurraga T.H. Cabernet Sauvignon, Alto Maipo 2011, Maipo (tem previsão de chegada ao Brasil em novembro, importado pela Inovini).

O projeto Terroir Hunter, de que o colunista Luiz Horta tratou em 28/2, é destaque ali. Floral, com taninos finos, reúne concentração e complexidade. Veja no mapa ao lado o que procurar nas regiões vinícolas do Chile.

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Ilustração: Daniel Almeida/Estadão

ACONCAGUA

O vale de Aconcagua, cerca de 65 km ao norte de Santiago, faz vinhos de alta qualidade – a diferença de relevo é bem marcante entre as três subdivisões de Costa, Entre Cordilheiras e Andes. O desenvolvimento do vale foi comandado por um produtor, no caso, a Viña Errázuriz. A zona dá bons tintos de Cabernet Sauvignon e Syrah no centro e nos Andes. E bons Pinots e Sauvignons Blanc na Costa.

Costa. Com vinhedos bem perto da costa (entre 7-12 km do mar), como Zapallar e Concon, a névoa invade as encostas pela manhã, controlando o calor e a luminosidade. Com isso somado aos ventos do Pacífico, que mantêm as temperaturas baixas, criam-se excelentes condições para Sauvignon Blanc e Pinot Noir. As notas de limão, certa salinidade e boa estrutura caracterizam o Sauvignon Blanc ali, enquanto notas florais e de frutas ácidas e minerais tipificam a Pinot Noir dessa zona.

Entre Cordilheiras. O clima local favorece o amadurecimento da Cabernet Sauvignon, evitando notas herbáceas típicas da uva colhida antes da hora e deixando a variedade manifestar suas notas de frutas vermelhas maduras. Petit Verdot e Syrah, também amadurecem bem ali, especialmente a Syrah que mostra sua faceta mais frutada, com traços de pimenta-do-reino e taninos aveludados.

Andes. Além do clima mais frio, o solo pobre em nutrientes , prolonga o ciclo de maturação da uva. A grande beneficiada é a Syrah, que mostra personalidade delicada, floral, cheia de especiarias e frutas frescas. Os taninos são discretos e há ótimo frescor. Experimentos vêm sendo conduzidos com as variedades Tempranillo e Grenache.

MAIPO

PALADAR

FOTOS: Marcel Miwa/Estadão

Bem próxima da capital, Santiago, essa é a região vinícola mais popular do país. Atualmente, suas zonas mais interessantes estão aos pés da Cordilheira dos Andes e nos terraços ao longo do Rio Maipo, onde as condições favorecem a Cabernet Sauvignon (recentemente descobriram ali também grande potencial para a Petit Verdot). Houve um tempo em que os vinhos da região eram excessivamente herbáceos. Mas eles melhoraram. Hoje são frutados e terrosos com discreto toque abaunilhado (mas em anos mais frios pode aparecer um mentolado…). Há pouco mais de 12 mil hectares de vinhedos, mais da metade com Cabernet Sauvignon e participações menores de Syrah, Chardonnay e Merlot.

Entre Cordilheiras. A Cabernet Sauvignon ali é mais potente e alcoólica. Em direção à Cordilheira da Costa, Malbec, Syrah e Merlot oferecem bons resultados.

Andes. As zonas de Pirque e Puente Alto são conhecidas como a “Pauillac” do Chile. A grande amplitude térmica, pouca umidade e solos ricos em cascalho, com um pouco de argila e areia, criam condições ótimas para desenvolvimento da Cabernet Sauvignon e mais recentemente da Petit Verdot e da Cabernet Franc. Desta região saem muitos dos grandes vinhos chilenos como Don Melchor, Santa Rita Casa Real, Almaviva e Viñedo Chadwick.

ITATA

PALADAR

No sul do país, esse vale está sendo redescoberto – a região, que nos anos 1950 somava a maior superfície de vinhedos no Chile, ainda tem muitas vinhas velhas.

Costa. Zona de brancos frescos (e aromáticos, no caso da Moscatel), tem mostrado potencial para produzir vinho-base para espumantes e tintos elegantes das castas País e Cinsault.

Entre Cordilheiras. Ainda se encontram vinhas velhas de País, Cabernet Sauvignon, Carignan e Moscatel. Mas a área está sendo replantada com vinhedos de Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling, entre as brancas, Syrah e Pinot Noir, entre as tintas.

CASABLANCA

Costa. Esse foi o precursor dos chamados vales de clima frio do Chile: umidade alta e ventos frios do Pacífico penetram o vale, trazendo névoas com alguma frequência. Os brancos exuberantes de Sauvignon Blanc e Chardonnay, com notas de frutas tropicais seguindo o modelo neozelandês, começam a ceder espaço para uvas colhidas mais cedo, que dão vinhos mais cítricos e frescos. Quase metade dos vinhedos ali é de Chardonnay. Sauvignon Blanc e Pinot Noir também se destacam.

SAN ANTONIO

Costa. Tem condições mais radicais que a vizinha Casablanca, com relevo mais acidentado e vinhedos mais perto do mar – alguns a apenas 4 km. A influência dos ventos do mar é considerável e pode dar notas marinhas aos vinhos, além de manter as temperaturas baixas mesmo no verão. O solo de rocha granítica decomposta dá mineralidade a brancos e tintos, além de taninos mais agressivos aos tintos. Quase metade dos vinhedos catalogados é de Sauvignon Blanc. Chardonnay e Pinot Noir são também importantes.

COLCHAGUA

PALADAR

Colchagua é uma das regiões mais versáteis do país. A variedade de excelência ali é a Syrah. A Cabernet Sauvignon (mais plantada) e a Carmenère também são expressivas nas diferentes denominações.

Costa. Os vinhedos nas escarpas da Cordilheira da Costa têm a temperatura controlada pelo Pacífico, menor luminosidade e maior ventilação. O solo ali favorece a complexidade e a mineralidade, especialmente no Sauvignon Blanc.

Entre Cordilheiras. Zona plana e central do vale, de solo mais fértil e temperatura mais elevada. Produz vinhos potentes, maduros, de variedades que pedem calor para amadurecer de maneira adequada, como a Carmenère. Em geral são tintos intensos, com menor acidez e grande concentração.

Andes. É a queridinha da vez em Colchagua, onde fica a sub-região de Apalta, sinônimo de Syrah cheio, mas elegante, com especiarias, frutas negras e violetas. Variedades como Grenache e Mourvèdre estão sendo testadas na região.

BÍO-BÍO

Entre Cordilheiras. Cerca de 500 km ao sul de Santiago, o vale vai apresentando condições limítrofes para a produção vinícola conforme se aproxima da Patagônia, com temperaturas baixas e ventos constantes, que retardam o amadurecimento das uvas, mas dão ótimos resultados em variedades de clima frio, como a Pinot Noir, Sauvignon Blanc e Riesling. É uma área promissora.

ELQUI

PALADAR

Luz e vento frio caracterizam o Vale de Elqui. Perto do Deserto de Atacama, a zona não tem a subdivisão Entre Cordilheiras. A luminosidade é intensa e os ventos frios – dos Andes e da Costa – circulam facilmente. Nos vinhos, a nota de argila é a marca dessa região. Apesar de ter vinhedos há séculos, com predominância de Syrah e Sauvignon Blanc, o foco nesse vale sempre foi a produção de pisco.

Costa. Os vinhedos estão plantados em solos com argila, areia e quartzo, o que favorece o amadurecimento. O clima mais frio agrada às brancas Sauvignon Blanc e Chardonnay e à tinta Pinot Noir. Dá vinhos pouco alcoólicos, mais frutados e algo salinos.

Andes. O solo de cascalho e a amplitude térmica, maior do que na costa, favorecem Cabernet Sauvignon, Carmenère e Syrah. Mas é a última que se expressa de forma mais singular e com maior eloquência, com taninos muito finos, notas de violeta, frutas negras e algo terroso.

LIMARÍ

PALADAR

Dois fatores influenciam a produção desse vale: o solo calcário e uma pequena formação rochosa na costa, de norte à sul, chamada Altos de Talinay. As uvas mais plantadas são Chardonnay, Syrah, Cabernet Sauvignon e Sauvignon Blanc.

Costa. Em Altos de Talinay, zona de solo calcário e névoas matinais, se fazem vinhos minerais e com muita sapidez (intensidade de sabor). Têm ótimo equilíbrio entre álcool, taninos e acidez e notas frutadas frescas, com destaque para Sauvignon Blanc, Chardonnay e Pinot Noir.

Entre Cordilheiras. Com vinhedos mais baixos, solo arenoso e clima mais quente, a região dá tintos mais potentes, sustentados por taninos finos e mineralidade. Além da Chardonnay, Cabernet Sauvignon e Syrah se destacam.

Andes. Zona ainda pouco explorada para vinhedos, é vastamente dedicada à extração de cobre. Aguardemos.

CURICÓ

Esse é o vale dos vinhos brancos, que abriga o maior vinhedo de Sauvignon Blanc do Chile e o segundo maior de Chardonnay (só perde para Casablanca). Foi o espanhol Miguel Torres que, nos anos 1980, apostou que esse vale úmido poderia originar vinhos elegantes. A Sauvignon Blanc ali tem destaque, com estilo frutado cítrico e herbal. Entre as tintas, predominam Cabernet Sauvignon, Merlot e Carmenère.

Costa. Solo granítico e clima frio reforçam a vocação para os brancos, com Sauvignons Blanc frutados e de álcool moderado. Entre os tintos, Pinots Noir bem frescos.

Entre Cordilheiras. Desse vale é a região com maior vocação para tintos. A maior insolação permite bom amadurecimento da Merlot e expressão elegante da Cabernet Sauvignon. A sub-região de Lontué é uma boa referência.

Andes. Solo vulcânico e clima frio fazem com que as atenções estejam concentradas nas variedades brancas, como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Gewürztraminer e Riesling.

CACHAPOAL

A 85 km ao sul de Santiago, é uma região de menor destaque que Colchagua. Recebe ventos do oceano vindos pela Cordilheira da Costa. Tem ótimas zonas de Carmenère e de Cabernet Sauvignon. Entre as brancas, Chardonnay e Sauvignon Blanc encontram condições privilegiadas.

Entre Cordilheiras. É lugar dos mais reconhecidos Carmenères do Chile, especialmente em Peumo, sub-região próxima à Cordilheira da Costa. Os ventos da costa permitem o amadurecimento lento que essa variedade pede, sem a ocorrência de chuvas, e os solos ricos em argila suportam o vigor natural da planta.

Andes. O clima frio e seco com boa luminosidade produz Cabernets refinados, com taninos finos, bom frescor e (potencialmente) sem sobrematuração. Da mesma forma que em Bordeaux a Sauvignon Blanc também se destaca entre as variedades brancas.

MAULE

PALADAR

Maule tem sido cultuado pela “redescoberta” de suas vinhas velhas na região de Cauquenes. Lá, Carignan, País e Cinsault centenárias, cultivadas sem irrigação, dão o caráter da região: vinhos de “calor” – potentes, mas com deliciosa acidez e taninos marcantes e agradável rusticidade.

Costa. Variedades de clima frio, como Merlot e Pinot Noir e castas brancas se expressam melhor e com maior delicadeza.

Entre Cordilheiras. Vinhas antigas com raízes profundas se beneficiam do clima mediterrâneo extremo e conseguem produzir uvas na mesma sintonia – com intensidade de concentração, cor, taninos e acidez.

Andes. O solo vulcânico e os ventos dos Andes criam condições interessantes para brancos e tintos. Com calor moderado e ciclo das videiras prolongado, tintos com Cabernet Sauvignon e Merlot chegam em ponto ótimo de maturação, com taninos e acidez suficientes para evoluir por alguns anos. E os brancos, com Chardonnay e Sauvignon Blanc, mantêm frutado elegante, exibindo mineralidade e frescor.

MALLECO

Entre Cordilheiras. No vale mais austral do país, as condições são extremas, com muita umidade e frio intenso. Variedades que amadurecem rápido se saem melhor. Ainda assim, granizo e geada ameaçam a safra. Nas zonas mais quentes, com face norte, há ótima luminosidade, que faz aparecer a tipicidade da região: vinhos frutados ou florais, delicados, muito frescos e aromáticos. Felipe de Solminihac, da Viña Aquitania (Maipo) foi o grande empreendedor da região.

 

Confira a matéria na íntegra: http://blogs.estadao.com.br/paladar/reforma-vinografica/

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