O olho do Tigre

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Com a Universal StudioCingapuras, resorts, shoppings e cassinos, Cingapura e a ilha da prosperidade da Ásia. FERNANDO SOUZA foi ver esse lado do Tigre Asiático, mas não só com apenas 707 quilômetros quadrados – metade da área do município de São Paulo, Cingapura não para de atrair holofotes e investimentos. Em 2007, ganhou os noticiários ao estrear a operação do superjumbo A380, o maior avião de passageiros do mundo, nas cores da Singapore Airlines. Em Abril de 2008, foi a vez da Singapore Flyer desbancar  a Londom Eye como a maior roda-gigante do planeta,  pouco antes de a Fórmula 1 realizar a primeira corrida noturna de sua história nas ruas do centro financeiro. Superado o pior da crise econômica internacional, 2010 recolocou o pais numa rota de crescimento acima dos 7%, fato brindado com a inauguração do parque da Universal Studios e do Marina Bay Sands, enorme complexo de hotéis, restaurantes, shopping Center e Cassino. Sem a ostentação de Dubai nem a fama de Hong Kong, o país recebeu 9,7 milhões de turistas estrangeiros em 2009. Até 2015, o governo espera atingir 17 milhões de visitantes, apostando nos 2,5 bilhões de pessoas que vivem em países como China e Índia, a até sete horas de vôo do país.

Cidade-Estado como o Vaticano e Mônaco, Cingapura se espalha por 64 ilhas que em comum têm clima quente e tempestades dignos da brasileira Belém. E foi exatamente num aguaceiro desses, no século 14, que o príncipe Sumatra Sang Nila Utama ancorou na ilha principal, onde teria avistado um leão – singba, em sânscrito. Seja lá o que Utama viu, a cidade do Leão (Singhapura) não passava de um decadente vilarejo de pescadores. Mas sua posição no Índico era estratégica para o comércio com o Oriente, Cinco séculos depois, em 1819, sir Thomas Stamford Raffles, alto funcionário da Compahia Britânica das Índias Orientais, desembarcou na cidade. Ao perceber seu potencial como entreposto marítimo na rota das especiarias, assinou um tratado com o sultão Hussein Shah, pagando um bom montante de dinheiro a ele ano a ano.

É nesse ponto da história de Cingapura que começa meu tour pela cidade. Estou num caótico bairro étnico do país, para onde os trabalhadores eram destinados no período colonial. Este é Little India, onde a Serangun Road, coalhada de camelôs, tem a marca característica do bairro: os sobrados geminados e coloridos das shophouses. A residência fica em cima; a loja, cheia de budas de resina, relógios de quinta categoria e suvenires baratos, embaixo. Nas ruas, turbas de indianos dividem espaço com camelôs, mas nada tão “Índia” como as locações do filme Quem Quer Ser um Milionário?.

Turistico, não, mas intenso Little India é. O fervor religioso, os sáris coloridos e o barulho onipresente formam um cenário humano único na cidade. Assim que entrei no templo dedicado à deusa hindu Kali, irromperam sons de um tambor e de uma flauta. Habia oferendas aos montes, uma delas banhada caudalosamente por litros de leite. Com tudo isso, eu já não sabia mais onde estava.

Segui, então, para a grande e popular praça de alimentação do mercado Teka Centre, quase no fim da Avenida. Chamados de hawkers (barracas), esses espaços são comuns nas cidades e servem comida étnica autêntica a preços baixos. O ambiente do Teka lembra o de uma muvucada rodoviária brasileira da década de 1970. Resolvi arriscar um chicken biryani, arroz com curry acompanhado de coxa de frango. O cozinheiro, sem luvas, mergulhou um prato de plástico no panelão, o polegar por dentro, enterrou-o no arroz, ergueu-o cheio, colocou a porção em outro prato e me serviu. Por causa do tempero, guardei o sabor do biryani para a prosperidade, em que pesem as condições duvidosas de higiene. Era bom.

Meu segundo destino étnico em Cingapura foi o Arab Quarter. Marco do bairro, a Mesquita do Sultão tem uma vistosa cúpula dourada, embora não exiba ornamentações internas. Mais limpo e organizado que Little India, o bairro conta com diversos restaurantes árabes, indianos e chineses, sobretudo na Kandahar Street.  À noite, nas calçadas sob a marquise da Hali Lane, jovens estendem tapeste no chão e se reúnem para fumar em narguilés, ritual que se espalha pelas mesinhas dos cafés e restaurantes.

Continua… O olho do Tigre parte ||

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Cingapura, MAHARAJAS EXPRESS

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