Confira matéria do Estadão sobre o Japão
São menos de oito horas da manhã em Kyoto. O sono caminha tranquilo para o despertar. Deitado no tatame de uma ryokan, o hotel tradicional japonês, ouço um cântico ao longe. O mantra entoado por vozes difusas parece estar cada vez mais perto. A preguiça é vencida pela curiosidade e me levanto. Da janela da casa quase centenária, observo a dona da hospedagem e homens vestidos com macacão azul marinho, chapéu de palha e chinelos. São monges mendigos que saem pelas ruas de manhã pedindo contribuições. A senhora os trata com carinho. Tira algumas moedas do avental e dá para cada um deles.
A cena resume bem o que é viajar pelo Japão. Para um fotógrafo, como eu, um prato cheio: em 24 dias, foram mais de 3 mil fotos. E Kyoto é a cidade que reúne de forma mais abrangente tudo que emociona no país. Castelos seculares preservados, um centro vibrante (onde carros luxuosos e lojas de grife convivem em harmonia com bicicletas), mercados tradicionais com exóticas comidas (para olhos e estômagos brasileiros, é claro).
Gion, o bairro das gueixas, fervilha à noite. Turistas e locais misturam-se nas suas ruas escuras e de casas centenárias de madeira. O clima de mistério é acentuado pelos néons nas fachadas das casas onde as mulheres se apresentam – em muitas delas, apenas um público seleto pode entrar. Difícil é conseguir fotografá-las pelas ruas em seus trajes. Discretas, elas preferem evitar as lentes.
Ver uma verdadeira gueixa tornou-se minha obsessão nas ruas de Kyoto – é comum encontrar turistas japonesas com vestes semelhantes, mas não gueixas autênticas. Foi só em minha última noite na cidade que me deparei com uma maiko (como são chamadas as jovens gueixas) verdadeira andando apressada em uma das avenidas principais.
Do profano ao sagrado. Com mais de mil anos de história, Kyoto foi a capital do país durante vários períodos históricos. Mas não é só por isso que ela é tão querida pelos japoneses. Eles costumam visitá-la ao menos uma vez na vida, como se fosse uma espécie de Meca.
Pudera. A cidade concentra mais de 1.600 templos, a maioria budistas e xintoístas, o que faz dela rota de peregrinos. Boa parte de seus monumentos é também tombada pela Unesco.
As excursões estão por todos os lados. Estudantes de uniformes impecáveis: meninos de terno e gravata, meninas de saias plissadas e meias soquete. Grupos de terceira idade, em filas organizadas. Para quem não vai necessariamente movido pela fé, são os belos jardins, cuidados com perfeição, e a arquitetura que impressionam. Por mais que você dispare sua câmera fotográfica, é difícil transmitir aquilo que sentimos quando estamos lá. Palavra de fotógrafo.
TIAGO QUEIROZ , KYOTO – O Estado de S.Paulo
Fonte: Estadão
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